
NANCI

Faço parte do grupo do projeto Estação Memória da USP, Valéria Pagano Gonçalves é o meu nome, nasci no dia nove de setembro de 1955, na cidade de São Paulo. Sou a filha mais velha do casal Francisco Pagano e Vicência Pagano, brasileiros, ambos descendentes de italianos. O que foi muito bom para a toda família, pois ficamos conhecedores das tradições e das comidas típicas da Itália. Lembro-me dos almoços de domingos na casa de minhas avós, regada a muito molho, macarrão, porpetas e bracholas!!!! Que delícia!!!!!
Meus pais só tiveram duas filhas, a Vânia, minha irmã mais nova e eu. Morávamos no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, um dos redutos de italianos da cidade, e toda a família de meu pai morava lá desde que chegou da Itália. Meu pai era muito bairrista, e quando se casou, pediu para minha mãe morar na Mooca. A família de minha mãe era da Bela Vista, centro de São Paulo, outro reduto de italianos. Pelo visto, minha mãe não se importou de sair daquela vista, apesar de ser bela e veio morar na Mooca!!!
Vivemos muito bem no bairro, estudei nas escolas particulares - Colégio São Judas Tadeu - até o 3º ano Primário, e atualmente, é também uma universidade, e no Colégio Santa Catarina, onde fiquei até o 4º ano do Colegial. Naquele tempo, quem quisesse fazer o curso para professora de Fundamental I (professora primária), precisava fazer quatro anos de colegial.
Meus pais pediram muito para optar pelo curso “normal”, queriam assegurar um diploma para a filha.Meu sonho sempre foi fazer Medicina, caminho oposto. Sabia que seria mais difícil, teria que fazer cursinhos bons, que me suprissem da falta de estudo das disciplinas exatas no curso Normal.
No 4º ano do Normal, entrei no Objetivo (preparatório para vestibular), fazia normal de manhã e cursinho a tarde.
Meu pai era gerente do Banco Mercantil da Rua Quinze de Novembro, no centro da cidade, e foi transferido para uma agência nova no bairro do Ipiranga. Lá, ele conheceu a Faculdade São Marcos, e soube que o curso de Psicologia era bom (comentários de clientes...). Sugeriu que eu prestasse no meio do ano (do 4º ano Normal) o exame para sentir o “clima” de um vestibular; aceitei, prestei e passei, e acho que qualquer um passaria no início de um curso em uma faculdade particular. Meus pais acharam melhor trancar a matrícula, e assim o fizeram.
Continuei o cursinho e o quarto ano Normal. Em agosto, meu pai passou por uma cirurgia nos rins, não resistiu e faleceu depois de dois dias no hospital.
Tudo mudou para nós três, minha mãe, irmã e eu. Senti-me no dever de ajudá-las emocionalmente e financeiramente. Não queria deixar mais preocupação para minha mãe até tudo ficar estabilizado. Precisavam mais da minha presença em casa. Sai do cursinho, perdi o exame da faculdade da Santa Casa, que era no mês de agosto, terminei o Normal. Logo arranjei um emprego na Escola Modelo do SESC, na Vila das Mercês, e cursei Psicologia na faculdade São Marcos. Mudanças de planos em minha vida!!!!!!
Cursei Psicologia no período da manhã e trabalhava como professora de Fundamental l na parte da tarde. Conheci neste período o meu marido e me casei no final do meu curso. Sempre trabalhei dando aula, estudando Psicologia e namorando o Jorge no meu tempo de estudante universitária.
Tivemos um casal de filhos, o mais velho, o Leonardo, é advogado tributarista, e a Verena é engenheira civil.
Depois de casada, fiz pós-graduação em Psicopedagogia na Faculdade São Marcos, tive excelentes professores. O curso foi muito bom para o meu trabalho com meus alunos em sala de aula, dadas as devidas restrições e proporções. Fiz na Casa do Psicólogo, curso de Psicomotricidade e de Psicanálise (apaixonante). Minha última pós foi na FMU, em Docência em Ensino Superior, excelente curso, me fez entender que é muito bom ser aluno independente da idade!!!!
Não poderia deixar de escrever um parágrafo sobre minha permanência de 32 anos de trabalho como professora do 5º ano de Fundamental l no Colégio Franciscano Pio Xll e 7 anos como coordenadora de Matemática, porque foi com certeza uma experiência única, como profissional e como ser humano; aprendi a ver o outro e lutar por ele como meta principal de vida. É uma escola que fica em um lugar privilegiado (no meio de um pedaço de Mata Atlântica preservada), com estrutura de primeiro mundo e oferece ao professor oportunidade de constante atualização...
E o sonho de exercer Medicina? Acho que busco até hoje outras formas de curas que também me realizam como ser uma boa profissional, esposa, mãe, amiga, sogra e quem sabe avó... Estou sempre procurando o remédio certo!!!
